Para muitos estudantes de administração, para grande parte
dos pesquisadores, praticantes e tantas outras pessoas inseridas em organizações (alguém não
está?) das mais variadas formas, a resposta parece ser tão óbvia e natural que tal
questionamento chega inclusive a causar profundo estranhamento. Tradicionalmente, uma
organização é entendida como um sistema social limitado, com estruturas e objetivos
específicos e que atua de forma mais ou menos racional e coerente (Cooper & Burrell, 1988),
como uma espécie de ferramenta ou estrutura voltada para que um grupo atinja seus objetivos
(Czarniawska, 2013).
Se parecemos ter como certa essa definição, é de se esperar que alunos e
pesquisadores do campo da Administração passem a assumir essa noção como ponto de
partida de sua compreensão acerca dos mais variados fenômenos organizacionais e passem a
pensar, produzir e reproduzir conhecimento alicerçado nessa ideia ou concepção de
organização. Compreendida desta maneira, a noção de organização em si funciona como uma
metadiscurso ou metanarrativa (Cooper & Burrell, 1988; Calas & Smircich, 1999) para
legitimar a ideia de que a mesma é uma ferramenta social e uma extensão da agência humana
(Cooper & Burrell, 1988). Tal noção encontrou abrigo na predisposição acadêmica dominante
de tratar como não problemáticas as noções de “a organização”, “seus objetivos”, “ambiente”
e “estratégias”, por exemplo (Chia, 1996).
Mas e se essa noção naturalizada e reificada do que viria a ser uma organização não
fosse tão neutra, natural e não problemática quanto parece? E se sozinha ela não for suficiente
ou capaz de nos aproximar da compreensão de fenômenos organizacionais complexos? Ou
então, se tal noção nos distanciasse do entendimento do que seria uma organização, de como
ela acontece ou de como são realizadas as ações e processos de organizar? Esses são alguns
dos questionamentos que norteiam os estudos sobre o organizar (organizing) que representam
uma abordagem processual na qual as organizações e os fenômenos organizacionais são
compreendidos como processos de organização e não como entidades fixas, homogêneas e
estáveis (Weick, 1979; Chia, 1995; Cooper & Law, 1995; Tsoukas & Chia, 2002;
Czarniawska, 2004). O foco da análise a partir do organizar (ver: Alcadipani & Tureta, 2009)
representa esforços de pesquisa para entender as organizações “como elas acontecem”
(Schatzki, 2006), como verbos (organizar) e não substantivos (Cooper & Law, 1995),
sugerindo assim uma lente temporal e processual. Esse olhar oferece novas possibilidades
para explorarmos e buscarmos compreender a produção da organização e não a organização
da produção (Cooper & Burrell, 1988), pois, nela, a organização é vista como um resultado ou
produto final e não como ponto de partida (Czarniawska, 2004), pois se assume que “as
organizações nunca explicaram nada; são as organizações que precisam ser explicadas”
(Czarniwaska, 2006, p. 1557).
Embora essa abordagem processual não seja algo exatamente recente no campo dos
estudos organizacionais (Czarniwaska, 2013; Corradi; Gherardi; Verzelloni, 2010), os últimos
vinte anos testemunharam certo retorno do conceito de prática à referida área (Gherardi, 2009;
Corradi; Gherardi; Verzelloni, 2010). Assim, este artigo tem por objetivo abordar o conceito
do organizar, buscando resgatar suas origens, apresentando uma ontologia do organizar, bem
como algumas abordagens sobre o tema e como estas poderiam trazer um novo olhar à análise
organizacional e quais seriam implicações dessa perspectiva, em termos de pesquisa e ensino
no campo dos Estudos Organizacionais (EO).
fonte:Autoria: Márcia de Freitas Duarte, Rafael Alcadipani
fonte:Autoria: Márcia de Freitas Duarte, Rafael Alcadipani